quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Circle

Os olhos fechavam. E a cada vez ficava mais difícil fazê-los abertos novamente.
A luta para se manter acordado depois das reviravoltas da sua própria cabeça era o que fazia com que as olheiras dele nunca diminuíssem.
A corda arrebentada do violão fazia eco a cada passo mal dado dentro da casa. Ela roçava contra as outras cordas e fazia seu barulho penetrante invadir os pensamentos já conturbados do cara.

...

"All that I wanted were things I had before
All that I needed, I never needed more
All of my questions are answers to my sins
And all of my endings are waiting to begin"

...

A garrafa cheia até a metade parecia sempre um pouco mais pesada do que antes.
O líquido que deveria limpar o corpo e a alma parecia se instalar verminosamente em seu corpo. Se sentia preso ao chão, ao mundo, ao mundano.
Sonhar ficava difícil quando a realidade era o braço que o despertava.

...

"All that I wanted were things I had before
All that I needed, I never needed more
All of my questions are answers to my sins
And all of my endings are waiting to begin"

...

E os olhos insistiam em fechar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Final Countdown

(3)

Os passos cansados o guiavam pra casa depois de mais um dia em que o sol nascia e se punha da mesma maneira. Os carros já eram escassos nas ruas e os mínimos ruídos assumiam dimensões colossais. Tudo era espaço e som-sem-som. As janelas dos prédios indicavam pessoas insones, despreocupadas ou cansadas demais para apagarem as próprias luzes. As poucas pessoas com quem encontrava no caminho trocavam um rápido olhar; ora intimidador, ora tímido... Mas ninguém se ignora numa noite assim. Todos se olham...

...

(2)

Uma coisa interessante é como o corpo funciona. Se você já assistiu Click, com o Adam Sandler, vai entender o que eu digo. O corpo assume respostas automáticas para situações similares. Os seus botões de avançar, voltar e pausar funcionam o tempo todo. Basta uma situação que se encaixe no padrão e... Voilà: lá está você entregue ao comportamento e à ação antes determinada. É difícil vencer um instinto.

...

(1)

Cães vira latas parecem ter sua própria gama de "raça particular". Só eu penso nisso? Que existem padrões caninos entre os caninos supostamente sem eles? Eu não sei, mas o que me acompanhou pelas 5 quadras durante o caminho de casa era da raça mais bonita. Aquela branca, de porte médio/grande, com grandes olhos pretos e rabo comprido. Se meu apartamento permitisse um convidado daqueles, ele teria ficado. Mas ele foi embora orgulhoso de si, porque sua meta na noite foi cumprida. Nada melhor do que a sensação de dever cumprido.

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(Zero)

O comprimido está vencido. O sono terá de encontrar outra maneira.

domingo, 18 de novembro de 2012

Rope

Descansado e entediado o cara sentava na beirada da cama e pensava.
A luz entrava tímida pelas frestas da persiana fechada. Lá fora, o céu cinza-azulado indicava que, possivelmente, Curitiba estava oferecendo outro agradável dia de clima caótico a seus habitantes.

Na quitinete simples, as roupas penduradas na cadeira pediam para ir ao armário. Aqui e ali os livros largados imploravam por um pouco de atenção. O relógio estava sempre 15 minutos adiantado pra que ele não se atrasasse, mas ele sempre se atrasava. Era verdade que os ônibus não colaboravam com ele, se atrasando os mesmos 15 minutos de quando em quando. Também era verdade que a vontade dele andava baixa, mesmo com perspectivas de mudança significativa batendo à porta. Mas realista como era, o cara geralmente não se importava. "Não contar com o ovo dentro da galinha", dizia o seu avô. E assim, a visão realista de seu modo de vida e atos havia começado.

O dia já estava no fim. Um dia tirado para descanso, mas que deixava na garganta aquela sensação de que mais poderia ter sido feito e que mais poderia ter sido aproveitado. No fim daquela tarde qualquer, com aquela luz diminuindo e com todo o lugar olhando pra ele, o cara suspira. A semana que se aproxima é a que vai decidir muito na vida dele. É a em que ele vai decidir muito da própria vida também. Muita responsabilidade pra um domingo, em contraste com os outros domingos em que as preocupações eram o almoço e o jantar.

...

"Às vezes eu penso em me suicidar", ela havia dito.

Ele entendia. A declaração o havia deixado nervoso, mas porque ele às vezes também pensava. Mas a primeira tentativa foi a última (há muito tempo atrás) e viver era importante agora.

Um coma prolongado seria mais ideal.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Is There Anyone Out There

"Os dias tem passado tão rápido
As noites não oferecem sono o suficiente
Meu corpo está fora do lugar
Meus sonhos tem sido como navios cinzentos perdidos no mar

E meu coração cresce cansado...

Tão longe de onde eu comecei
E tão longe de onde eu quero estar
As torres que eu observava quando era pequeno
Não são tão altas quanto eu uma vez acreditava

E meu coração cresce cansado...

Há alguém aí?
Você me conhece
Eu sou o filho
De um país perdido
De um mundo novo
Nós nascemos pra correr
E nunca mais olhamos para trás

As crianças que nascerem amanhã
Nunca saberão a língua que nós falamos
A sabedoria que emprestamos
Nos levará a algo enterrado demais

Nós trazemos o fogo
Nós trazemos o fogo
Nós trazemos o fogo


Há alguém aí?
Você me conhece
Eu sou o filho
De um país perdido
De um mundo novo
Nós nascemos pra correr
E nunca mais olhamos para trás

E nunca mais olhamos para trás

Quando nós éramos jovens, nós nunca soubemos
(E nunca mais olhamos para trás)
Da dor que nos espera, mas nós prosseguimos
(E nunca mais olhamos para trás)
E todos os meus heróis eram estranhos
E nós queremos sê-lo também
(E nunca mais olhamos para trás)
Quem nos guiará quando eles se forem?
Quem nos salvará quando as pessoas erradas tiverem vencido?

Há alguém aí?


Há alguém aí?
Você me conhece
Eu sou o filho

Há alguém aí?

Há alguém aí?"

sexta-feira, 13 de julho de 2012

You've Got a Friend in Me

Amigos. Sempre me apeguei à palavra de uma forma bastante intensa. Sempre dei valor à todos eles da melhor forma que eu pude. Sempre me importei, sempre quis saber como estavam e, acima de tudo, sempre fiz tudo o que pude pra estar por perto quando um deles precisava de mim. Por isso, sempre me enfureço quando descubro que um deles pegou minha amizade e triturou no liquidificador da fofoquinha e da falta de companheirismo. Amigos reclamam uns dos outros, é natural. Muitas vezes amigos fazem besteira um pro outro e até que as coisas se acertem é natural que se reclame pra lá e pra cá coisas simples. Mas quando é depreciativo demais, quando prejudica a vida alheia, quando não condiz com um mínimo aceitável de decência e caráter... bem, aí não é amizade, não é mesmo? Aí é alguém que além de não se importar nem um pouco com sua vida, amizade e com você, é alguém que claramente tem um senso deturpado e escroto do que é ter tudo isso. Eu tenho lido muitos textos de pessoas expressando profundo sentimento de gratidão pelos amigos que tem. E eu tenho muita gratidão pelos que eu tenho. Os verdadeiros. Os que não fodem minha vida pelas costas. Os que pelo menos pensam em me dar um alô de vez em quando porque por um momento eu passei elo pensamento deles. Por um momento eu fui significativo na vida deles e só isso me anima. Eu acredito em intenções e sei diferenciar bem aquelas de quem quer me fazer bem ou mal. Eu até hoje me afastei de três pessoas que já chamei de amigo em toda a minha vida. Hoje eu acho que me afasto de mais um. E se for, vai tarde.

domingo, 8 de julho de 2012

Dust in the Wind

Não sei quantas vezes já comecei um post com "Cá estou eu" no NPNB, mas não creio que tenham sido muitas.

De qualquer forma, cá estou eu escutando discos estranhos e pensando na vida, no frio da madrugada de domingo pra segunda.

Metade do ano já se foi e vultos passam ao meu redor. Eu de fato fecho meus olhos por um momento e os momentos escapam. Os meus sonhos passam diante dos meus olhos. Todos eles. As mesma velha música é só mais uma gota no mar infinito das que tocam dentro de mim. Tudo o que eu faço, acaba novamente atracado ao chão, por mais que eu me recuse a crer. Eu não espero e sei que nada dura pra sempre, fora o céu sobre nossas cabeças e o chão sob nossos pés; sei que cada momento se vai e nenhum dinheiro no mundo me compraria um minuto...

Tudo o que nós somos é poeira no vento.

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Eu queria ser o vento.

domingo, 24 de junho de 2012

Pumped Up Kicks

Os olhos do bichinho eram grandes. ELE era grande. E eu nunca (um "nunca" meio mentiroso, mas vá lá) havida gostado de gatos. Crow já tinha quase um mês e era enorme. Era um gato comportado dentro do padrão de um gato e foi o único que sobreviveu de uma ninhada de 4 gatos sem a mãe, morta por um vizinho idiota incapaz de compreender que no domingo às 7:30 a manhã ninguém precisa escutar música ruim em auto falantes...

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O gato estava acomodado com ele como nenhum outro gato havia ficado. Na tv, Foster the People embalava o sono do pequeno felino com sua melodia suave e baixo tranquilo. Eu e ele, ambos de negro, pescávamos diante da televisão ligada sem a menor preocupação com as coisas da vida. No meio do sono ele se agitou e eu brinquei com ele. Sussurrei baixinho no seu ouvido:

"All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
Better run, better run faster than my bullet"

E o gato dormiu de novo.

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Os olhos do bichinhos eram grandes. E eu me sentia pequeno.

domingo, 17 de junho de 2012

Dirty Little Secrets

I do have mine.

Fix You

Eu tenho passado por algumas poucas e boas da vida.
Houve um ponto em que reagir era uma questão de escolha (e não, nem sempre é; ou quando é, é a escolha ruim), mas existe o ponto em que reagir é necessário.
Não sei bem como definir como o ano tem passado, como eu tenho me afastado de muito do que gosto e me cercado de mesquinharias, falsas promessas e covardia, como odeio esforço não reconhecido.

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Ela estava chorando. De novo. E o que eu poderia fazer? Não posso reviver os mortos, porque isso simplesmente não existe. O conforto que eu posso oferecer tem sido constantemente obliterado por qualquer coisa que eu possa vir a dizer. Eu quero juntar os cacos dela, um por um, colocar no lugar e fazê-la rir e se sentir bonita e alegre de novo, mas a vida... A vida é uma filha da puta. E, OK, com minha história eu já me acostumei com isso. Mas ela não.

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O botão está lá.
O de autodestruição.
Só resta saber quando apertar e me mandar pelos ares.

domingo, 15 de abril de 2012

Never, Ever

Mancadas hoje, ontem e sempre. Acreditem as pessoas ou não, ninguém gosta de cometê-las. Mas se há tempo, tupo pode ser colocado no lugar.

Acho que vi pouca gente falando que fez merda nesse tipo de site. Todo mundo gosta de contar vantagem ou dizer que a vida não anda legal, mas ninguém olha e admite mancada em público.

É "vergonhoso" adimitir um erro na frente de todos e parece que cada vez mais as pessoas se sentem altas demais em seus altares de orguho para descerem de lá e aceitarem que não estão o tempo todo cheias da razão. No fim das contas, cada um acaba se isolando na bolha de "eu estou certo" e não se dão conta de que apesar de pontos de vista serem relativos, de realidades e rotinas serem diferentes, de pensamentos e crenças terem sido construídos com diferentes embasamentos, as pessoas se magoam.

Há quem se esconda sob o escudo do "ah, mas eu não tive a intenção", e claro que isso deve ser levado em conta. Mas a mágoa de quem se gosta é um erro. Se repetido constantemente pode levar até à perda do carinho que você anda por aí espalhando que é importante, mas simplesmente não demonstra como deveria. Qual a pessoa que por um momento qualquer na vida não pensou em ser tratada por um segundo como gostaria? De receber um apoio, um pedido de desculpas, um convite pra um papo descompromissado, um café... qualquer coisa simples assim, que não dóem a ninguém?

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Eu gostaria de poder colocar um outdoor com todas as desculpas que devo dar, mas prometo que as entregarei da melhor forma que puder. Se eu as devo a você, espere por elas e elas virão.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Faithfully

"Valeu a pena".

Foi tudo o que eu pensei depois de todos esses anos sendo eu mesmo como acreditei que devesse sempre ter sido.
Foi a maior recompensa depois de ter passado todo esse tempo me achando um "cara errado por ser certo demais".

Eu tenho meus defeitos. Mas me esforço todos os dias pra que eles deixem de existir.
Não chega a ser uma busca pela perfeição, apesar de eu poder definir assim pra melhor me fazer explicar.

Mas ali, naquela imensidão castanha em espirais, eu vi que tudo valeu a pena.
Em cada afago nos meus cabelos, mordida nos meus ombros, beijos, abraços, carinhos, desejos, segredos compartilhados, músicas da minha boca, danças do corpo dela... Com cada fibra do meu ser eu acredito que valeu a pena.

Em três dias serão 9 meses de gratidão, sorrisos, lágrimas...

E você me faz sonhar tanto.

Hotel

NPNB

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Hoje o dia estava abafado e a luz cinzenta das nuvens entrava sem pressa no quarto desarrumado.
O cara olhava mais uma vez para o mesmo ponto imaginário na imensidão branca do céu.
E viajou de novo...

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Não era só o quarto desarrumado.
A vida parecia estar virando uma bagunça também.
Nos últimos dias ele andava bem humorado sem motivo algum, como se alguma droga vinda de lugar nenhum o estivesse entorpecendo aos poucos e o anestesiando do mundo lá fora.
E quando se deu por conta lá estava ela: a bagunça imensa impondo-se de maneira inegável bem diante dos olhos dele.
Em algum momento ele teria que começar a arrumar as coisas uma a uma; o problema é que ele estava sem saco pra isso.
Sem saco pra bagunça; sem saco pra se mexer; sem saco pra nada.
E estava bem com isso.

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Ele arrumou a cama com calma, tirou a louça suja perdida no criado mudo e embaixo da cama, jogou o lixo fora e abriu a porta e a janela para que o ar ventilasse.
Era um ar abafado, mas ainda assim o efeito foi instantâneo de algo ruim indo embora e deiando um espaço vazio para ser preenchido por alguma outra coisa.

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Estava bem com isso porque ultimamente andava de bem consigo.
Sempre lutara freneticamente contra si mesmo, em um duelo que envolvia consciência demasiada, paciência excessiva, perspectivas (e expectativas) falsamente realistas e muita vontade de mudança.
Desta vez, contudo, preferia deixar-se quieto e agir por si mesmo sem o auto julgamento que vinha acompanhando-o há tempos.

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Levantando-se da cama e ainda fitando o ponto imaginário ele respirou um pouco mais.
Mas ainda lhe faltava o ar que ele tanto queria respirar

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Tudo muda.
Sempre.
Apenas abra os olhos e veja.
Se você ignorar a lagarta, nunca vai vê-la tornar-se a borboleta.

domingo, 8 de abril de 2012

Getting Better


"It's getting better all the time

I used to get mad at my school (No I can't complain)
The teachers who taught me weren't cool (No I can't complain)
You're holding me down (Oh), turning me round (Oh)
Filling me up with your rules (Foolish rules)

I've got to admit it's getting better (Better)
A little better all the time (It can't get more worse)
I have to admit it's getting better (Better)
It's getting better since you've been mine

Me used to be angry young man
Me hiding me head in the sand
You gave me the word, I finally heard
I'm doing the best that I can

I've got to admit it's getting better (Better)
A little better all the time (It can't get more worse)
I have to admit it's getting better (Better)
It's getting better since you've been mine
Getting so much better all the time
It's getting better all the time
Better, better, better
It's getting better all the time
Better, better, better

I used to be cruel to my woman
I beat her and kept her apart from the things that she loved
Man I was mean but I'm changing my scene
And I'm doing the best that I can (Ooh)

I admit it's getting better (Better)
A little better all the time (It can't get more worse)
Yes I admit it's getting better (Better)
It's getting better since you've been mine
Getting so much better all the time
It's getting better all the time
Better, better, better
It's getting better all the time
Better, better, better
Getting so much better all the time"

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E ainda assim tanto pra melhorar.
Tanto pra acontecer.
Se você sabe, torça por mim.
Eu agradeço...
Eu tenho que admitir que as coisas estão melhorando...
Mas eu quero mais.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fear of Sleep

(Mais um que fugiu do NPNB)

Desabafar é realmente limpar a alma.
À medida em que as palavras saem, todo o peso se vai.
É como esvaziar um cesto de lixo: nem tudo jogado lá é realmente nojento ou não pode ser reaproveitado, mas quando colocamos pra fora dá pra dizer que a casa está limpa de novo.

O problema é como o lixo se acumula. Algumas pessoas sabem realmente aproveitar tudo o que tem e só jogam fora aquilo que acham extremamente necessário. Suas sacolas são sempre pequenas e espaçosas e no fim acabam desperdiçando sacolas inteiras por apenas um papel sujo.

Há outras ainda que acabam quase estourando a sacola pra depois colocarem o lixo pra fora. Seja com coisas grandes ou pequenas o fato é que parecem esperar até o lixeiro aparecer na porta uma semana depois para poderem se livrar do que está lá, nos sacos estufados, pesados e muitas vezes com chorume no fundo. Nesse caso o problema é sempre que, se a sacola está atulhada, alguma coisinha sempre cai dela pra ser devolvida ao lixo na semana seguinte.

Mas o mais importante de tudo é tirar o lixo.

E tem pessoas que simplesmente não ligam de mantê-lo ao seu redor. É quase como se não notassem aquela pilha colossal de coisas pra jogar fora; como se não sentissem o cheiro ruim daquilo que não presta mais; como se o espaço livre pudesse ser sempre remanejado. E o tempo passa, passa, passa e no fim a pessoa acaba por se tornar parte daquilo do que não se livrou. Lixo. Fede, não presta, não tem utilidade.

Mas isso não é sobre pessoas.
É sobre lixo.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Postal Blowfish

Nós não temos a mesma impressão sobre as coisas.
Nós concordamos, de fato, em muito pouco.
Nós não temos os mesmos olhos.
Nós sabemos, contudo, os que veem melhor (a cor que você vê sempre).
Nós não temos a mesma cor de cabelo, altura, timbre vocal, gosto musical nem nada assim.
Nós completamos um ao outro, entretanto, melhor do que Pepsi e cachorros quentes (ah, o Pistoleiro).
Nós não podemos estar sempre juntos.
Nos fazemos o que podemos com o que temos.

E ainda assim...
Ainda assim...
Você e eu não queremos ficar um segundo sem o outro.
Você e eu nos amamos como ninguém mais.

...

Ah, a vida.
Daora ela

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Dakota

São seis da manhã.

Os carros já se movimentam lá fora e os pássaros já começaram a cantar. Não faz frio nem calor e a luz do quarto não é fraca nem forte. O cara coça a cabeça e a barba por alguns segundos e deita na cama.

Mas o sono não vem. Ele não sabe bem o que perdeu, mas sente que perdeu alguma coisa. Ou que algo lhe foi tirado. Ou que alguma coisa no mundo real desandou. Ou que a insônia só está tentando pregar mais uma das suas (desde ontem, afinal).

Deitado na cama ele escuta os "bem te vi's" discutindo acaloradamente. As lombadas dos livros que ele não leu tentam oferecer algum tipo de consolo chamando os olhos e os distraindo. A camiseta ainda é a mesma com a qual ele saiu do banho antes de voltar a trabalhar. A garrafa d'água pela metade parece distante demais...

Distância.

Esse é o problema.

Distância é algo relativo. Não é difícil alguém dizer à pessoa amada olho no olho: "você parece distante...".
Assim como não menos raro é se sentir imediatamente conectado com alguém que está a quilômetros de distância, por amor ou por pura identificação mútua.
E geralmente é fácil arrumar as coisas quando a distância é pequena. Unem-se as mãos, abrem-se os lábios e os ouvidos, engole-se o orgulho e: "ta-dah!". Ei-la, a solução! Mãos dadas, sorrisos, abraços, carinho, compreensão... Tudo volta ao normal. Mas quando a distância é grande... Aí só depende da vontade de fazer o caminho um pouco menor.

...

"Eu não sei aonde nós vamos agora
Só olhe bem pra mim agora"

Dakota - Stereophonics