quarta-feira, 11 de abril de 2012

Hotel

NPNB

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Hoje o dia estava abafado e a luz cinzenta das nuvens entrava sem pressa no quarto desarrumado.
O cara olhava mais uma vez para o mesmo ponto imaginário na imensidão branca do céu.
E viajou de novo...

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Não era só o quarto desarrumado.
A vida parecia estar virando uma bagunça também.
Nos últimos dias ele andava bem humorado sem motivo algum, como se alguma droga vinda de lugar nenhum o estivesse entorpecendo aos poucos e o anestesiando do mundo lá fora.
E quando se deu por conta lá estava ela: a bagunça imensa impondo-se de maneira inegável bem diante dos olhos dele.
Em algum momento ele teria que começar a arrumar as coisas uma a uma; o problema é que ele estava sem saco pra isso.
Sem saco pra bagunça; sem saco pra se mexer; sem saco pra nada.
E estava bem com isso.

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Ele arrumou a cama com calma, tirou a louça suja perdida no criado mudo e embaixo da cama, jogou o lixo fora e abriu a porta e a janela para que o ar ventilasse.
Era um ar abafado, mas ainda assim o efeito foi instantâneo de algo ruim indo embora e deiando um espaço vazio para ser preenchido por alguma outra coisa.

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Estava bem com isso porque ultimamente andava de bem consigo.
Sempre lutara freneticamente contra si mesmo, em um duelo que envolvia consciência demasiada, paciência excessiva, perspectivas (e expectativas) falsamente realistas e muita vontade de mudança.
Desta vez, contudo, preferia deixar-se quieto e agir por si mesmo sem o auto julgamento que vinha acompanhando-o há tempos.

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Levantando-se da cama e ainda fitando o ponto imaginário ele respirou um pouco mais.
Mas ainda lhe faltava o ar que ele tanto queria respirar

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Tudo muda.
Sempre.
Apenas abra os olhos e veja.
Se você ignorar a lagarta, nunca vai vê-la tornar-se a borboleta.

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